quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Enlouqueci aos trinta

Aos trinta eu fiz
Pensei demais, enxerguei longe e percebi além
Com trinta anos eu me apaixonei por um menino, por psicanálise e por mais três livros
Senti tesão por mim e desejei uma moça ou duas; sem culpa
Aos trinta, me chamaram de puta, ousada, separada, me olharam com dó; não vi
Com os mesmos trinta, me admiraram, me desejaram, me chamaram de vadia; gostei
Deleguei minha filha ao pai, viajei, bebi e dormi 12 horas; nada de culpa
Recuperei laços, desfiz alguns e fiz nós, muitos nós
Passei máquina 3 no cabelo, pintei o olho de preto e usei batom vermelho. Adorei.
Me olhei no espelho ontem e gostei do que vi. Hoje, não. Amanhã, sei lá.
Afirmei gostar de sexo sem compromisso (a não ser comigo mesmo), achar que nunca amei alguém e já ter transado no primeiro encontro. Culpa zero.
Trintei e gritei ser feminista, chata e visceral. Ouviram.
Disse pra todo mundo que gosto de política, de futebol, que choro à toa, dou risada de graça e prefiro não comer carne
Arrumei um emprego novo, meu quarto e me intitulei fotógrafa; e mais outra paixão, nesse meio tempo
Afirmei ser preguiçosa, decidi ser menos técnica, forcei um ócio criativo e produzi mais
Descobri que prefiro o horário da tarde pra noite e que sempre aguardo feliz, o horário de verão
Comecei uma pós, resolvei fazer mestrado, mochilar, dormir menos e trabalhar muito; vou ser mestra.
Contei: dez tatuagens. Quero mais
Notei que música me move, me paralisa e tenho trilha pra tudo
Confessei que não gosto de religião e que optei por pisar na terra, abraçar uma árvore e agradecer ao universo. Choquei.
Revelei que sou careta e que minha única brisa é a da cerveja e de um cigarro no porre ou o maço todo

Trinta anos; menina inquieta, mulher vulcão

Enlouqueci, dizem.
Eu digo que me asssumi. E que ainda tem mais.

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